

Dados editoriais
A revista Homens Livres, “Livres da Finança & dos partidos”, que assim enuncia a sua vocação anti-plutocrática e apartidária, deu à luz dois números, datados de 1 e de 12 de dezembro de 1923. Não se apresentou com uma estrutura hierárquica, mas com os nomes dos seus 36 colaboradores. Em nota incluída na primeira edição, identifica António Sérgio como redator principal e Reynaldo dos Santos como editor.
A escolha do título é provocatória ou ambígua, pelo menos, dado evocar o vocabulário maçónico. No mesmo esteio, o texto de abertura tem a marca da fidelização dos integralistas no caldo da novidade do século – nem esquerda, nem direita, homens do século XX, homens livres dos poderes instalados na procura de uma “ideia nacional”, de uma “finalidade nacional”.
No grupo de colaboradores, encontram-se quase todos os membros do Corpo Diretivo constitutivo da Seara Nova, em 1921, que António Sérgio ainda não integrava: Aquilino Ribeiro; Augusto Casimiro; Faria de Vasconcelos; Ferreira de Macedo; Jaime Cortesão; Câmara Reys; Raul Brandão; Raul Proença1. Do corpo Diretivo de 1923 e 1924, todos eram Homens Livres – António Sérgio; Câmara Reys; Faria de Vasconcelos; Raul Proença. Entre os 36 colaboradores, Ezequiel de Campos, Raul Proença, Celestino da Costa e António Arroio tinham integrado a revista Pela Grei, facto que indiciava o ecletismo do grupo.
Os seareiros eram, no entanto, um grupo minoritário no contexto dos 36 colaboradores2, onde se encontram elementos reputados do integralismo lusitano, como António Sardinha, Hipólito Raposo, Pequito Rebelo, Castelo Branco Chaves. São, no entanto, maioritários na produção de artigos no primeiro número da revista3, enquanto no segundo, além da incontornável presença de António Sérgio, se encontram contributos diversos, nomeadamente os de António Sardinha e Castelo Branco Chaves.
A polémica entre Sérgio e Sardinha em torno das “almas republicanas” dá nota do ecumenismo político-ideológico do primeiro e da relação cordial entre ambos.
António Sérgio chamou “almas republicanas” aos integralistas, revelando pouco lhe importar a divisão entre monárquicos e republicanos4. Como assumirá em esclarecimento posterior, fazia parte dos que “aceitavam” a República, e dos que confiavam que a regulação da eleição e funções de um presidente lhe permitiriam exercer “aquele papel ponderador que os Integralistas atribuíam ao Rei”5. António Sardinha responderá que Bonald sustentava que os melhores juntariam a “independência republicana” à “fidelidade e obediência monárquica”6, e citando Maurras para a análise das possibilidades da república, convocava as experiências de Primo de Rivera e de Mussolini, como salvaguardadas pelas qualidades da monarquia. Em resposta, António Sérgio corrigia os mal-entendidos desnecessários numa revista que se destinava a dar voz ao que era comum: o homem do século XX, a “política nova”, onde “o monárquico do século XX” e o “republicano do século XX” se uniam pela devoção apaixonada à res publica.
Cecília Honório
Não integravam: Francisco António Correia e José de Azeredo Perdigão.↩︎
Elementos exteriores à Seara Nova – Afonso Lopes Vieira, Agostinho de Campos, António Arroio, António Sardinha, Artur Castilho, Augusto da Costa, Aurélio Quintanilha, Carlos Malheiro Dias, Carlos Selvagem, Castelo Branco Chaves, Celestino da Costa, Ezequiel Campos, Gualdino Gomes, Hipólito Raposo, José de Figueiredo, Manuel da Silva Gayo, Marck Athias, Pequito Rebelo, Raul Lino, Reis Machado, Francisco Lacerda, Reynaldo dos Santos, Sarmento Pimentel, Simões Cardoso, Vieira de Almeida, Vieira de Campos.↩︎
Com vários artigos de António Sérgio, além dos contributos de Raul Proença, Jaime Cortesão e Aquilino Ribeiro.↩︎
António Sérgio, “Vivos e Mortos”, Homens Livres, n.º 1, pp. 1-2.↩︎
António Sérgio, “Lapsos e mal entendidos”, Idem, n.º 2, p. 15.↩︎
António Sardinha, “Almas republicanas”, Idem, n.º 2, pp. 6-7.↩︎